quinta-feira, junho 29, 2006

Eu tremia. Como poucas vezes tremi nesses anos todos. Talvez seja o começo do inverno, as velhas crises de artrite, ou a multidão de solitários presos em minha biblioteca empoeirada, meus companheiros na solidão da velhice e da juventude. Quando se chega a uma certa idade as lembranças com mais de 40 anos parecem mais recentes a mente, você não sonha mais, vive uma rotina de acordar cedo, dormir mais cedo ainda, reclamar, e sentir saudades.
Nesse aspecto os melhores amigos são os retratos. Imagens de quando ainda usava fraldas, nossas festinhas de aniversário, as maluquices da faculdade, retratos de um casal apaixonado, as fotos das crianças, que viraram adultos e depois sumiram. Aliás pensei que não fossem sumir, afinal fui eu q apresentei Jah a eles... mas mesmo assim...
A aposentadoria, a cama de viúvo, a sua foto na cabeceira, ah os nossos 20 anos, como era linda quando dormia, o sorriso de menina que não te abandonou naquele dia cinzento em que vc partiu pra sempre, beijei seus lábios frios antes que fechassem o caixão, ali eu deixei meu sorriso também, ao seu lado.
As crianças ainda me visitam às vezes, mas a velhice e a juventude parecem que se repelem, os jovens tem medo da morte estampada no rosto enrugado e da brancura nos cabelos...
Com a companhia Marx, Hegel, Dante, Drumond e Machado eu ainda viajo, mas todas as noites em que deito, tenho quase a certeza de não sonho mais... e isso me assusta, pq um homem sem sonhos é um homem morto, e pra quem não acredita num depois, o fato de saber que o show terminou é assustador, dá até vontade de experimentar o ópio da religião, mas ainda me contento com meus cigarros e às vezes um cogumelo mágico, quem sabe?!
Talvez seja mais uma dessas tristezas de aniversários, ou a senilidade dando seus primeiros traços, e as vezes tudo parece exagerado, como aquelas conversas repetidas, sabe?! Aquelas histórias que você conta pros netos repetidas vezes, que les já sabem de cor, quando eles eram crianças essas histórias eram mágicas... e agora...
Assim como meus discos empoeirados eu fico parado. Num trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte que não chega.

segunda-feira, junho 12, 2006

Naquela noite, ela gritava. Dizia desesperadamente que aquilo que eu escrevera não era real. Soluçava... torturava-me com sentenças duras... que eu fora poeta e não estava naquilo... que era prostituição... bizarro e mentiroso.
Em desespero quebrei uma garrafa em minha cabeça, agarrei-a pelos braços, rasguei seu vestido e sugava seu mamilo com vontade. Em meio a arfadas, gritava a plenos pulmões: escrevi mentiras sim!!! pq não posso escrever a realidade!!!Isso aqui é real!!! O nosso suor!!! Nossos gemidos!!! Minha lingua em sua calcinha!!!
Puxou meu rosto pra cima!!! Deu-me um beijo. Mordeu meu lábio inferior.
Isso é real!!! Nossos corpos em comunhão. Sua barriga nua, a penugem do seu sexo, o seu gosto em minha boca, esse sorriso divino, seus seios contra a luz... como poderia descrever em palavras?! O jeito q vc dorme, sorrindo... como se não houvesse mais nada, a boca que faz quando solta a fumaça do cigarro, a careta com a sobrancelha levantada toda vez que é contrariada... a maneira como revira os olhos qdo toco aqui!!!
Continue!!! É isso que está faltando!!! Grite tudo isso ao mundo...
Não!!! É minha... apenas minha!!! Não quero que imaginem o biquinho rosado de seus seios, ou sua voz suave pedindo mais... Nunca!!!

quarta-feira, maio 31, 2006

A mulher mais bonita da cidade -

os fãs de buckovsk q me desculpem

Ok, ok, podem perguntar o quê um imbecil como eu pode entender de beleza, é... pode parecer estranho, afinal... esse não é o meu departamento. Além de covarde e fanfarrão, talvez eu seja incapaz mesmo de observar, observar talvez sim, afinal, gente baixa como eu são voyeres de primeira linha, mas creio que isso se encaixe muito mais do direito de fazer isso.
Tem gente que diz que não sou esse canalha que penso ser, que na verdade sou apenas um desses idealistas cuja fómula aparentemente o Kaos esqueceu e por não me adaptar a esses dias estranhos, a preguiça e a indiferença com a vida tomaram conta do meu ser, por isso eu esqueço das pequenas nuances fantásticas que essa coisa única, descartável, triste, feliz e completa chamada vida tem a nos oferecer... Quem sabe seja só isso. E um dia eu acorde.
Pq a mulher mais bonita da cidade?! Já garanto q as linhas perfeitas e desenhadas para o pecado não têm nada a ver com isso... talvez tivessem tido... mas apenas no começo. Eu falo do sorriso, do olhar meigo e da vontade que eu sinto de protegê-la enquanto dorme, ou mesmo do fato de que qdo ela aparece, meu mundo pára.
Sabe ser forte, é decidida, determinada, culta e doce, por trás da mulher ela ainda preserva um pouco da menina, que sorri com os olhos, olhos q dissipam a névoa e colore o filme noir que eu imagino a minha vida.
Acho até estranho escrever sobre o amor dessa maneira, logo eu q creio q isso não se escreve, isso vive!! Mas eu não passo de um cagão bêbado, fumante inveterado, eu não sei que coisa bizarra é essa!!!
Só sei que de uns tempos pra cá, a presença q dá um pouco de brilho ao meu cotidiano de fracassos deu uma apagada... e pra variar eu não sei o q fazer...
Fico aqui... sozinho... no quarto... copiando muitos clichês daquilo q li e ouvi em canções... Cheguei quase ao cúmulo de afirmar que qdo deus a desenhou ele tava namorando?! Pode uma coisas dessas?
Mas pelo jeito... eu continuarei na taberna ou no porão fétido, imundo e cheio de goteiras q é o meu quarto enquanto uma das coisas mais belas que eu já pude observar, seca até q essa flor morra...


NA vitrola

Melancholy (Holy Martyr)

[Iced Earth]

Make the sadness go away
Come back another day
For years I've tried to teach
But their eyes are empty
Empty too I have become
For them I must die
A sad and troubled race
An ungrateful troubled place

[chorus]
I see the sadness in their eyes
Melancholy in their cries
Devoid of all the passion
The human spirit cannot die
Look at the pain around me
This is what I cry for
Look at the pain around me
This is what I'll die for

Make the sadness go away
Come back another day
The things I've said and done
Don't matter to anyone
But still, you push me to see
Something, I can never be
Why am I their shattered king?
I don't mean anything

I see the sadness in their eyes
Melancholy in their cries
Devoid of all the passion
The human spirit cannot die
Look at the pain around me
This is what I cry for
Look at the pain around me
This is what I'll die for

Day Tripper - Type O negative

[Originally performed by The Beatles]

Day tripper - day tripper - day tripper
Got a good reason - for taking the easy way out
got a good reason - for taking the easy way out now
she was a day tripper - one way ticket yeah
it took me so long - to find out - and i found out
She's a big teaser - she took me half the way there
she's a big teaser - she took me half the way there now
she was a day tripper - one way ticket yeah
it took me so long - to find out - and i found out
If i needed someone to love - your the one that id be thinking
of
if i needed someone
if i had some more time to spend - then i guess i'd be with you my
friend
if i needed someone
got your number on my wall - and maybe you will get a call from
me
if i need someone
Day tripper - day tripper - day tripper
I tried to please her - she only played one night stands
i tried to please her - but she only played one night stands now
she was a day tripper - sunday driver yeah
it took me so long - to find out and i found out
She's so
heavy heavy heavy
she's so
heavy heavy heavy heavy
she's so
heavy
heavy heavy heavy
she's so
heavy - heavy - heavy - heavy

terça-feira, abril 25, 2006

eu vos digo:
é preciso ter caos dentro de vós
para dar origem a uma
estrela cintilante.
Vos digo:
Ainda há caos entre vós
ZARATUSTRA


Saiu pelas ruas desnorteado, não sabia quando nem porque saiu, também não fazia idéia pra onde ia, eu que observava de fora, sinceramente afirmo: nem se importava.
Nas ruas gente apressada!!! O dever chamava, dias iguais, caminhos iguais, rotinas idênticas, pensamentos formatados. Aluguel pra vencer, telefone pra pagar, limite do cartão de crédito, a natação das ciranças, o leite, o pão, o celular e a sandália da sandy...
Fachadas caindo aos pedaços, luminosos que feriam as vistas, uma prostituta de biquini na porta do hotel, um moleque de 10 anos cheirando cola... pediu um tapa, ficou mais desnorteado ainda... cores, sorrisos insanos, crianças dançando nuas na calçada, enquanto um centauro cochilava no quiosque de água de côco do curupira.
A caipora cantava uma canção sem sentido, enquanto um saci e um leprechaum brigavam pra ver quem andaria primeiro de patinete...
Do alto de um prédio o Batman vigiava tudo com um sorriso amarelo, meio sem graça...
Nosso andarilho sentou num banco da praça... em frente a igreja rolava uma orgia, deu um tapa num cigarro, pensou em entrar na festa, lembrou de alguma coisa e saiu correndo...
Chegando no cais do porto encontrou um velho que berrava coisas a plenos pulmões... falava sobre a plenitude da vida, o fascinio do vazio, e pq o escuro dá tanto medo que as vezes congela, fechou os olhos, quando viu estava fitando o mundo de uma janela, num desses quartos de hotel... mas dos mais fuleiros, daqueles que fariam sua mãe vomitar de tanto nojo e desgosto por ver o filhinho querido naquela situação... nacama uma guria que ele nem lembrava o nome. Deixou uns trocados. Fechou a porta, pagou a conta.
Um salgado gorduroso, um café e um cigarro pra acompanhar, sabe digerir...
Passou em casa, botou o terno, ligou o carro, pegou a via expressa, passou alguns faróis vermelhos, o mesmo caminho, a mesma reta, contas, prestações, orçamentos, preço do dólar, bolsa de valores, máscaras, espetáculos, tudo a mesma droga...
Hoje, talvez nunca mais ele irá caminhar nas núvens...

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

sede

A noite e seu fascinio, o vento fresco, o sabor da cerveja, a fumaça dos cigarros. Meu habitat natural. Copos se batem alegremente, brindes são dados, música ruim e todos dançam. Eu não sei dançar, na verdade talvez não seja apenas um não saber, mas também um pouco de medo. Pessoas que perdem o seu tempo escrevendo esse tipo de relato são covardes, é... é isso que eu sou.
E lá estava eu, com uma garrafa de cerveja na mão, um sorriso forçado a curtir a festa da minha maneira, fumando meu cigarro, bebendo, olhando. Corpos se moviam no ritmo da música, outros se tocavam embalados pela paixão etílica enquanto alguns gritavam umas coisas sem sentido. No meio dessa gente tào perdida quanto eu um ponto de luz emerge. Ah o doce cheiro da inocência, sorriso de menina, gestos controlados e olhos brilhantes, o velho calhorda ao ver tudo isso sentiu sede, e não era bem a cerva q a saciaria. Eu queria sua saliva, seu suor, sentia uma inveja profunda daquela maldita brisa suave que beijava seus cabelos. Queria consumir toda aquela pureza e se o resultado disso fosse a quebra do encanto, eu pouquíssimo mw importava. Uma hora a festa acaba, o anjo vai embora desse culto ao vinho, continuei no meu canto, saboreando o último cigarro do maço, e o fundnho na garrafa de cerveja... ainda estva com sede. Voltei pra casa, fui pra cama, durmi e não sonhei... eu não sonho mais.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Listas de Fim de Ano

Tudo aquilo que será escrito aqui é descaradamente influenciado pelo "Alta fidelidade", filmaço que eu assisti essa semana. É verdade... agora farei algo que não faço desde a finada "que que é isso meu", hoje na minha lua florestal favorita teremos um momento nerd se abrindo pensando na vida através de minhas referências de cultura pop... e lá vamos nós!!!

minhas sagas preferidas do amigão da vizinhança

A Última Caçada de Kraven - dispensa comentários!!!
A fase Romitinha e Strazinsck - fazia tempo em q eu não me divertia tanto com as histórias do Spidey... tinha humor, responsabilidade e porra...finalmente a Tia May se ligou quem era de verdade seu sobrinho preferido...
O Menino que Era fã do Homem Aranha- provavelmente eu devo ter errado o título mas a história é tocante...
Tormento - o Mcfarlane revolucionou a linguagem gráfica do cabeça de teia e essa saga é muito bacana...
e para o grã-finale a saraivada de eventos que tiveram como climax a morte do capitão Stacy e da eterna namorado dos fãs do teioso Gwen...

Hqs Imperdíveis

Watchmen
O Caveleiro das Trevas
V de vingança
Evangelion
Berserker
Hellblazer com Garth Ennis nos roteiros.

Surpresas Literárias do Ano

Baudolino - Humberto Eco
Ninguém escreve ao coronel - Gabriel Garcia Marques
Budapeste- Chico Buarque
A Voz do Fogo - Alan Moore
e finalmente consegui ler Brumas de Avalon inteiro!!! O Prisioneiro da àrvore é o melhor!!! esqueci como se escreve o nome da mulher...então desencana...

Minhas Músicas

My Own Savior - Iced Earth ( cantarolando... my madness.. my sadness...)
Bright Eyes - Blind Guardian (born into ashes to loose all the games, with a smilling face...)
Immigrant Song - Led Zeppelin ( aaaaaahhhhh...)
Sometimes I Fell Like Screaming - Deep Purple
Caminhante Noturno - Os Mutantes ( vai caminhante...)

Canções que eu Quero que Cantem no Meu funeral

Eleanor Rigby - Beatles
Bards Songs - Blind Guardian
A Montanha Mágica - Legião Urbana
Going To Califórnia - Led Zeppelin
How Could I Know - Raul Seixas


continua

sexta-feira, novembro 18, 2005

gostaria que você estivesse aqui...

mais um daqueles posts dedicados as minhas músicas preferidas... dessa vez é pink floyd

É... detesto admitir, mas eu realmente gostaria que você estivesse aqui. Quando você decidiu dar o fora eu pensei: "maravilha, cai fora!!! eu não ligo." Mas aí, o paraíso virou o inferno, os campos verdes secaram, a cerveja acabou e os cigarros também. Ficou apenas o vazio no seu lado da cama, o porta retratos sem fotos, e aquelas montagens toscas que eu fazia foram jogadas fora.
Nunca fui bom com despedidas, aliás até mesmo nos encontros... droga!!! Se não ia ficar, porquê diabos decidiu abrir a porta?! Não era mais fácil ficar berrando coisas sem sentido do quintal? A sua partida seria menos dolorosa...
Agora olho no espelho e pareço a merda de um fantasma... tudo porque? vc levou até os meus cigarros... bom, pelo menos nunca descobriu onde eu escondia meu scoth 12 anos... ao menos isso...
Eu acho que você poderia me dizer, não é mesmo? Qual é o motivo das mudanças? Por que os heróis se tranformam em espíritos? Como eu queria que você estivesse aqui, poderíamos tomar nossos porres juntos, correr nus pela calçada, dia após dia, ano após ano... mas não dá...
Eu realmente queria...
Que você estivesse aqui...

sexta-feira, outubro 28, 2005

Eu tava triste. Sabe aqueles bodes que batem e te deixam estático. Mais uma dessas tardes sem graça. No cinzeiro, pontas e bitucas dividiam espaço, na verdade estavam transbordando. O balançar da rede, o laranja do crepúsculo, tudo muito igual, seguindo o ritmo e o ciclo da vida, nascimento, crescimento, vida, morte, amor ódio. Temas grandes demais pra mim, abaixo da varanda pessoas seguiam seu movimento, fluxo, velocidade, sujeira, agitação, música, churrasco grego...
A sala fedia cerveja choca e pizza de uns três dias, os copos pelo chão clamavam pela volta da empregada na segunda, recolhi alguns, na verdade recolhi todos, xinguei os donos daqueles que ainda armazenavam cerveja, desperdiçar uma loira gelada é um crime tão grave quanto bater na própria mãe. Isso na minha humilde opinião.
A tarde seguia sua levada lenta, e pesada as vezes, sempre gostei mais da brisa fria da noite, a escuridão, as luzes da cidade, os párias saindo de seus buracos, profetas urbanos, prostitutas, pseudo intelectuais, o sabor da cerveja, a fumaça do cigarro subindo até o teto contrastando com o neon. MAs naquele dia não tinha nada pra fazer, provavelmente passaria noite na frente da internet, buscando pornografia, as últimas do esporte, batendo papo... o telefone toca, "na rua os carros, no céu ... a chuva".
Um convite pra matar aquilo que sobreou da ultima festa, minha magrela cortava o vento enquanto eu e minha miopia éramos incapazes de popuar a pobre coitada dos buracos no asfalto.
Beber, fumar, falar bobagens, beber e fumar, essas reuniões se resumem nisso e muitas vezes se tornam monótonas e sempre iguais. A anfitriã estava linda como sempre, aliás devo admitir: eu, um ser preguiçoso por natureza ergueria uns caminhões por causa dela. Vou escrever em português claro, puta que pariu como é gostosa!!! Acho que acabo de poupar o leitor das minhas descrições que tentam ser poéticas e acabm ficando sem graça. Ela bebe mais do que muito marmanjo e eu valorizo isso, ela fala merda demais, eu tolero isso, ela namora, eu não gosto disso ela não dá bola pra mim e eu odeio isso.
O papo gira em torno de assuntos com um certo teor de semelhança, uma semelhança fractal como diria um certo professor de química que tive, a universidade, as festas, a qualidade da bebida, problemas urbanos e tudo mais... Quando começamos a discutir segregação espacial e violência urbana, todo o tesão se perdeu na quantidade de bobagens que aquela boca, linda diga-se de passagem, era capaz de pronunciar, não adiantava citar as origens sociológicas do problema, a maldita mentalidade pequeno-burguesa paulistana estava impregnada em sua embriagada cabecinha.
Naquela noite desisti!!! Eu tava chapado, e bem... não é o melhor estado pra se defender posições marxistas, minha paixão pela revolução digladiava-se com os meus elevados teores de testosterona, e bem...nessas horas é melhor ceder, já tava difícil controlar minha vontade de pular pro outro sofá e calá-la de uma maneira diferente.
Isso me levaria a repensar meu código de ética, minhas porsturas baseadas em... bem isso tb não vem ao caso, mais uma tarde chuvosa passou, e dessa vez sem telefonemas... internet me aguarde a noite vai ser longa!!!

quinta-feira, agosto 04, 2005

No café da manhã, chá, biscoitos e o noticiário matinal. As útimas notas da rodada do Brasileirão, a situação do trânsito, dicas de saúde e corrupção. Folheio meu jornal e saio de casa perdido. No rádio um velho rock 'n roll e promoções dando dinheiro numa cueca. Dou uma risada sem vontade. Onde diabos vamos parar?! Ética, pelo jeito o bom e velho conjunto de valores deve ter ido se esconder ai lado das antigas utopias, nestes tempos cinzentos de individualismo exarcebado e alienação.
Sim meus caros, eu era um dos últimos que ainda acreditavam na esquerda, e que apesar dos rumos da econômia e tudo o mais, ainda acreditava. Inferno, eu estava lá na Paulista quando o resultado das eleições saiu... também gritei a esperança venceu medo, agora eu digo a corrupção detonou a porcaria da esperança e seus lençóis doentes e rasgados.
O trânsito tá parado, tento pensar em outras amenidades, sei-lá, em arranjar grana pra ir no show do Judas, ou na garota que não sai da minha mente, mas essa revolta é maior do que as outras coisas...
Decepcionante...

sábado, julho 09, 2005

A Queda do Boêmio - parte 2

E a noite na cidade continuava exercendo seu facínio, em seu quarto de pensão o cheiro predominante era de maconha, sexo e cerveja. No trabalho sua imagem era intocável, ambicioso, agressivo bom administrador, à noite, aguentava o tranco, usava tudo que tinha direito e ainda voltava pra casa dirigindo. Foi subindo a Augusta, e ele não estava a 130, que conheceu um de seus grandes amores.
Camila era prostituta na Lovestory, linda, gostosa, pele macia e fazia um boquete maravilhoso. Ficou amigo dela numa farra que fizeram, conversaram um pouco, beberam e transaram muito. Morou com ela por seis meses, mas a espera por ela o angustiava, com sua seringa fitava a noite paulistana enquanto sua princesa estava ausente de seu castelo, pensava nas caras e bocas que ela teria que fazer, no vai e vem dos corpos, na dança sedutora em cima do palco, não aguentou, numa segunda feira qualquer deixou uns trocados no criado mudo e foi embora, já estava de saco cheio.
Aos 27 muitos que levavam o seu estilo de vida já estavam mortos, um ano depois nasceu seu filho mais velho, fruto de uma gravidez indesejada que foi bem recebida. Sua mãe torcia para que criasse juízo, mas parecia que para isso Deus não estava muito disposto a ouvir suas preces. Três anos após o primeiro filho, nasce a caçula, talvez o verdadeiro e grande amor da sua vida, mas a vida de casado e a responsabilidade de um pai de família não combinavam com ele. Todos diziam que morreria jovem e belo, as noitadas continuavam, dizia que nunca ficaraia velho e careca, que virar mutuário da casa própria, pagar o colégio das crianças e muitas outras coisas não eram pra ele.
A cidade o chamava para seus becos mais escuros, em botecos imundos dava seus tiros, tomava todas, comia alguma vagabunda no carro. Precisava de mais grana, não aguentava mais a pressão de ter um chefe, queria ser ele o patrão. E foi. Abriu uma fábrica de artigos em couro, ralou, e o negócio de fundo de garagem virou uma bela loja. Divorciado, morando com seus pais e as duas crianças, droga da boa sempre, gasolina no tanque, aos 37 poderia se dizer que a vida era boa.
Mas depois da calmaria vem sempre a tempestade. O plano Collor e o cancelamento de um grande contrato destruíram seus sonhos. Falência, máquinas vendidas, portas fechadas, chorara no colo de sua mãe como há tempos não fazia. Naquela noite saiu, precisava da brisa noturna, fez uma farra, uma grande farra. Mulheres, bebida e pó.
Seis meses depois dessa festa, Barata um de seus melhores amigos morreu em consequência do vírus HIV, o mundo desabou.
A espera no corredor gelado do Emílio Ribas foi tensa, o resultado, desesperador. Positivo, agora carregava uma bomba relógio em seu próprio sangue, morreria jovem, era sua certeza, mas não belo como gostaria. As farras continuavam, começou e parou o tratamento inúmeras vezes e outras sem conta ficou internado, achando que a hora chegara.
Abriu um novo negócio, sua ambição o mantinha e mantém agarrado a cada centelha de vida, trabalho, tudo se resumia a isso. E cigarros também, largou os piores vícios, mas era o "careta" que o empurrou de vez para o buraco, dois edemas pulmonares, fôlego zero, toda vez que sai à noite fica debilitado demais no dia seguinte, impotente e impedido de cair na gandaia sua vida se resume a pagar a prestação do automóvel, bancar os estudos do mais velho e praguejar sobre a vida quando olha no espelho e vê os cabelos longos já grisalhos, pelo menos não ficou careca.

sábado, julho 02, 2005

Crônicas em Concreto e Vidro - A Queda do Boêmio - parte 1

Contar histórias é um bom hobby e uma cidade tão grande quanto essa selva de pedra é um vasto celeiro para elas. O importante é saber dosar a quantidade de verdades e mentiras contidas nelas, afinal, apesar de reais, nem toda história é interessante. Você pode pegar suas próprias histórias de família, contá-las num tom impessoal, e pronto, segredos podem ser revelados sem nenhuma represália. Afinal, os trens lotados, os ônibus e as antenas de celular sabem de muitas coisas. Enquanto o vírus cidade não lança seus esporos pelo universo, eu continuo dando meus tragos, contando uma história aqui, ouvindo outras, participando de algumas. Sem contar que enquanto fico sentado em alguma esquina imunda posso adimirar as pernas das moças que passam e compram minhas tralhas de vez em quando.
Nas cidades existem diversos tipos de seres, quando digo tipo estou estereotipando mesmo, existem os operários, as amélias, aproveitadores, vagabundos... e gente que consegue mesclar esses arquétipos de personalidade. A maioria gosta de casos sobre os vagabundos, seres quixotescos tem nas luzes da cidade o seu sol noturno, bêbados e saltinbancos, românticos e na maioria das vezes estúpidos. Dessa vez vou falar sobre um guerreiro, não, não falo de Hércules ou Odisseu, nessa lenda o herói cumpre sua jornada mas o descanso e as honras da vitória nunca chegarão para ele.

...

A saga começa na cidade de Cubatão entre as décadas de 60 e 70, aos 8 anos engraxava sapatos, ajudava sua mãe a fazer a feira, comprava doces. Ele mesmo havia feito a sua caixa de engraxate, menor do que a média de garotos da sua idade, aparentava 6 anos mesmo já tendo completado 10. Inteligente, ambicioso, mimado. Era a grande esperança da família, todos o adoravam. Aos 12 fez um tratamento para crescer e começou a trabalhar como balconista na farmácia daquela vila fabril.
O salário não era dos melhores, mas Ricardo era tão carismático que o farmacêutico o tinha em grande cota. Queria ser médico. Mas nunca pôde, seu pai tinha espírito cigano e repetidas vezes a família mudava de cidade. Limeira, Santos, São Paulo, Cubatão tantas que eu perdi a conta e na boléia do caminhão de mudanças o menino cresceu. Um belo rapaz diriam as moças da época, magro, alto, cabelos negros e compridos, olhos verdes que faiscavam com a sua ambição e mal-humor, seu amigos o chamavam de Tia, porque realmente era uma tia velha quando suas chatisses vinham à tona.
O ar leve da noite era o seu éter, numa década de revoluções e mudanças suas viagens de ácido eram embaladas ao som de Riders on the Storm, nas curvas da estrada de Santos ou na estrada velha de Campinas seu trovão de aço voava baixo a quase 150km/h. Muitos pegas, música, bebida, amigos e mulheres. Sua mãe não dormia enquanto ele não voltasse pra casa, o estado em que chegava deixava o coração da pobre mulher apertado, tanta dedicação, tanto amor, tudo isso para à noite ver a pessoa que mais amava com os olhos arregalados, vidrados em algo que não podia entender.


continua...

quinta-feira, junho 23, 2005

uma menina parte 2

Ela não lembra ao certo como isso tudo começou, estava chapada demais. O cliente da noite era um sujeitinho insuportável, pelo que ouvira dizer, era um dos chefões do contrabando, sujeito com as costas quentes e montado no dinheiro. Baixinho, tinha mal hálito, mas cliente é cliente, nada que um tiro antes e um depois não resolvesse, tudo pela boa vida dos pais e por mais um bocado de pó do bom. Arrependeu-se amargamente de ter entrado naquele carro pela primeira vez, o desgraçado gostava de bater, arfava feito um animal, seu membro era flácido e ele descontava essa frustração provocando dor. Maria chorou amargamente, como não chorava há algum tempo, mas teve que suportar, essa e outras tantas que perdeu as contas, tudo porque o cão sarnento a adorava e muitas vezes pagava por exclusividade.
Numa quinta à noite, chovia em Sampa. Os sem-teto corriam em busca de abrigo, o metrô estava operando em velocidade reduzida e maior tempo de parada, as marginais pareciam veias entupidas de um coração prestes a ter um enfarte e ela corria chorando desesperada pelas ruas dos Jardins, e bem, pra variar, ninguém se importava. Também quem ligaria?! Com um temporal desses até mesmo uma deusa passa desapercebida. Não queria pensar no assunto, lembrou da violência com a qual tinha sido tratada, da vela começando a queimar seus cabelos, do hálito de bode, no chute que deu em suas bolas, no rato se contorcendo de dor e da vontade desesperada de sumir dessa cidade maldita.
Mandou um pra mente pra ver se melhorava, não adiantou. Virou uma garrafa de scoth e mesmo assim continuava o desespero, os prédios ao redor do seu a olhavam ameaçadoramente, cada janela um segredo sujo, algo pior que os seus, mas mesmo assim elas ousavam acusá-la. Desceu as escadarias desvairadamente, vestindo apenas a lingerie que escolhera para ir ao trabalho, ninguém notou. Seu choro se confundia com a chuva, chegou até uma passarela que passava sob a Av. Rebouças e pulou.
Ganhou uma nota em um rodapé na página de cidades do O Estado de São Paulo, seus pais ficaram estarrecidos, eram incapazes de imaginar o porquê dessa insanidade. Sua irmã mais nova se formou em medicina veterinária, é casada, tem dois filhos e a filha mais velha se chama Maria Paula, ainda não é tão linda quanto a finada tia... mas um dia... quem sabe...

sexta-feira, junho 17, 2005

Crônicas em Concreto e Vidro - Parte 1 - Uma Menina

As cidades infectaram o planeta como um vírus, e não vão descançar até que o organismo Terra morra, nesse instante elas darão um jeito de se superarem, lançarão a humanidade pelo cosmos para macularmos outros lugares, aí o terceiro planeta do sistema solar irá engulir essas antigas obras humanas para então entrar num novo ciclo de renascimento.
Quê que foi guri?! Tá achando esse velho maluco?! É talvez eu seja, sabe? Eu já fui filósofo, poeta, físico de renome, hoje eu vendo artesanato manja?! Eu faço arte. Tiro energia da cidade, aquilo que ela rouba de mim eu pego de volta, cada despedida, cada pulmão partido com a fumaça, o afeto a discórdia. Existem linhas de poder dentro delas, linhas que eu sei onde ficam, linhas de afeto, outras de dominação, é daí que eu tiro a magia, das enchentes, dos metrôs que rasgam a escuridão como os vermes das lendas... Sim, tem gente batalhadora, tem vermes sanguessugas... tem de tudo. Histórias gravadas em concreto e vidro.

Essa que eu vou contar agora não tem final feliz, é pra quem tem estômago, possui tudo aquilo que o povo gosta, sangue e sexo. E como toda boa história, ela começa falando de uma garota...

Maria Paula era linda, morena, olhos azuis, boca carnuda, uma pérola em meio aos porcos no sertão de Goiás. Cabelos longos, um olhar provocante em meio aos gestos de menina. Traduzindo para o bom e velho português de boteco, a mina era muito gostosa, mas muito mesmo. E ela sabia disso, sabia do efeito de seu rebolado, era capaz de ver as coisas ao longe, e quando pintou a oportunidade de ir a São Paulo trabalhar como modelo não pensou duas vezes. Poderia realizar os sonhos dos pais, dar uma vida melhor aos irmãos menores e viver na badalação.
As luzes coloridas, os carros em alta velocidade, as montanhas de concreto que erguiam-se imponetes em direção aos céus, parecia que nascera para aquilo, sentiu-se em casa no instante em que desceu na Rodoviária do Tietê e deu seu primeiro passeio de metrô até a agência.
O primeiro cachê foi bom. Aliás mais dinheiro que seu pai costuma ganhar em pelo menos 3 meses de trabalho duro, tudo isso apenas para caminhar, ser fotografada e vestir roupas bonitas. Baladas, muitas, agito, música, drogas, alcóol, sexo. Experimentou de tudo!!! Gastou tudo... até que uma amiga a indicou pra fazer um programa, em princípio era para apenas servir de acompanhante para um velho babão em um jantar de negócios, nada demais, até porque mesmo com a invenção do viagra... provavelmente ela mataria o velho do coração... Depois vieram os masoquistas que curtiam apenas apanhar, cocaína da boa, dinheiro que garantiria o futuro da irmã mais nova, uísque do bom, carro importado, o sonho de menina realizado.
Mas nem tudo são flores, sexo burocrático, nada de beijos apaixonados, apenas estocadas sem carinho, gemidos ensaiados, mentiras, no Mackenzie vestia a imagem de garota inacessível, fazia administração, não tinha amigos, só clientes e colegas de trabalho, os sonhos nem são tão bons quanto os devaneios mandados por Orfeu... chega uma hora em que a viagem termina e o pesadelo começa.



continua...

segunda-feira, junho 13, 2005

Perdido

Ele odeia admitir, mas se comove com a ocasião de consumo celebrada no dia dedicado ao santo casamenteiro. De quê essas coisas adiantavam pra ele?! Casais apaixonados pelas ruas, campanhas publicitárias péssimas e aqueles corações miseráveis espalhados pelas vitrines. A boa e já desgastada imagem de subversivo ordenava repúdio total a essas imposições do Sistema, mas invariavelmente todos os anos ele se sentia incrivelmente só. Noitadas, a brisa fria da noite e até mesmo a boa e velha cerveja, companheira de longa data, pareciam ser incapazes de animar o rapaz.
Também pudera, anos dedicados a sonhos em que seres humanos como esses que foram concebidos para esta dimensão jamais seriam capazes de realizar. Liberdade, justiça social, solidariedade ainda são conceitos avançados para nossa época, e por mais que não acreditasse em uma trascendência após a morte e ridicularizasse a separação da racionalidade do mundo sensível, permanecia imóvel, incapaz de agir, gritando paçlavras ao léu, buscando ações, querendo fazer a revolução de um único garoto, mas todo dia 12 de junho, ficava amuado, sentindo-se um zero, só não direi à esquerda porque caso contrário estaria escarnecendo de seus ideais, como se eu já não o estivesse fazendo a um certo tempo nessas singelas páginas.Sempre preso no mundo da lua.
Na semana passada em um bate-papo elevado com um grande amigo, uma verdade surgiu: "todo revolucionário é um homem perdido; seus fins são previsíveis, ou se torna um mártir (Guevara, Jannis, Morrinson, Hendrix, Cobain- todos morreram jovens), ou enlouquecem (Nieztche, Arnaldo Batista) ou acaba se rendendo, compra seu carro, vira mutuário da casa própria, ganha filhos pra se criar (seu pai)..."
Ele ainda continua atordoado com essas conclusões... Bem...uma hora ele acorda.

eu queria escrever uma ode à vitória esmagadora dos Javalis no torneio em ribeirão... mas infelizmente... tive que acabar recorrendo ao bom e velho tema dessa época do ano... c´est la vive

segunda-feira, maio 23, 2005

Fitando o Vazio ou Apenas Observando o Teto

Ele olhava fixamente para o teto de seu quarto quando começou a sentir-se enclausurado. Levantou, na cozinha apenas pratos sujos e panelas vazias. Reflexos de uma ausência. Há quanto tempo não cozinhava? Dias? Meses? Uma vida? Porquê andonara sua fortaleza de solidão? Não possuia tais respostas.
Sentou frente a prancheta, a folha em branco o enchia de terror. Assim como alguns pensadores durante a Idade das Trevas negavam veementemente a existência do vazio, ele fugia daquela brancura infinita e aterrorizante. Acendeu um cigarro, "nessas horas um cinzeiro e um scoth são as melhores companhias.
Cinziero transbordando, na garrafa pouco mais que umas gotas de uísque 12 anos. Desviou o olhar do vasilhame, num canto do quarto um kimono amarrotado, castigado pela falta de uso... Lembrou -se do conceito marcial do vazio, o lutador deveria transcender a raiva, e o momento, concentrar-se no vazio, deixar de lado o medo e as paixões, fitar o nada, mergulhar no vazio!!!!
Confusão, vontade de sair, gritar, correu até a cobertura do edifício, encarou o céu noturno, pensou no brilho daqueles olhos, preso na fotografia que queimara na noite anterior. Atirou-se num salto ilógico, deixou-se envolver por aquele vácuo reconfortante, na velocidade da queda, sentiu um raro momento de liberdade.
Satre disse que o ser humano estava condenado a ser livre, nosso amigo provavelmente estava condenado a ser só. No escuro encarou a folha em branco, se alguém tivesse prestado atenção poderia ter ouvido um ruído tênue,a queda de uma lágrima talvez. O papel não estava mais vazio, carregava toda a carga de sentimento daquela noite de delírio.
Deitou-se... olhar fixo no teto familiar... adormeceu... e teve sonhos intranquilos

domingo, maio 15, 2005

em breve aqui na sua lua florestal favorita

"Saiba, ó Príncipe, que entre os anos quando os oceanos tragaram a Atlântida e as reluzentes cidades, e os anos quando se levantaram os Filhos de Aryas, houve uma era inimaginável, repleta de reinos esplendorosos que se espalharam pelo mundo como miríades de estrelas sob o firmamento. Nemédia; Ophir; Brithúnia; Hiperbórea; Zamora, com suas lindas mulheres de negras cabeleiras e torres de mistérios e aranhas; Zíngara, com sua cavalaria; Koth, que fazia fronteira com as terras pastoris de Shem; Stygia, com suas tumbas protegidas pelas sombras; Hirkânia, cujos cavaleiros ostentavam aço, seda e ouro. Não obstante, o mais orgulhoso de todos era Aquilônia, que dominava supremo no delirante oeste. Para lá se dirigiu Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos ferozes, espada na mão, um ladrão, um saqueador, um matador, com gigantescas crises de melancolia e não menores fases de alegria, que humilhou sob seus pés os frágeis tronos da terra." Crônicas da Nemédia

sábado, maio 14, 2005

quarta-feira, abril 27, 2005

...

Posso ouvir vozes no escuro, às vezes vejo vultos, tenho medo de muitas coisas, tenho medo de cirurgias, já tive medo do escuro, tenho um medo imenso de te perder. Mas como posso ter medo disse se nunca a tive? Deve ser porque vejo as estrelas em seus olhos e sua voz me acalma como o barulho das ondas.
Queria te trazer pro meu mundo, que você pudesse enxergar como eu a vejo, ouvir como eu a ouço... mas ultimamnete tudo anda meio esfumaçado... o medo coloca suas garras pra foras... enche de névoas os meus sentidos... Te ver é quase uma necessidade, e chego até mesmo a ficar enjoado com esse meu sentimentalismo tolo... Fecho os olhos... imagino coisas lisérgicas... mas no final sua imagem aparece... como uma fumaça púrpura... Bem vinda ao meu mundo eu digo!!! Habite meus sonhos eu peço!!!


merda preciso parar de ouvir baladinhas e fazer uma overdose de soilwork!!!!

segunda-feira, abril 25, 2005

Sobre gente que não come bacon, meu ódio pelo miguxês e outras neuroses, ou Como manter um nível saudável de insanidade em uma fila...

Título pomposo é verdade, mas trata-se da saga do meu feriado em minha cidade natal, e dessa vez quero deixar de lado as crises existenciais, as grandes paixões pára me dedicar ao prazer puro e simples de reclamar.
Sábado à tarde em Sampa, após levar cano de meus grandes amigos tomo uma decisão; "Vou sozinho no teatro do SESI!!!"- acredito que ando muito acostumado a minha pacata vida no Centro-Oeste Paulista, já que parti para um passeio vespertino em São Paulo sem uma blusa de frio, um guardachuva, um walkman ou mesmo um livro.
A viagem de ônibus foi tranquila, sem grandes acontecimentos dignos de nota, quando me aproximo da Av Paulista come ça um toró... como sou estúpido!!! não levei guarda chuva... Tento correr, mas meus pulmões não estão mais tão adaptados à poluição, mas mesmo assim resisto, chego no teatro não muito molhado.
Decido passar um tempinho na gibiteca, no entanto, percebi q a fila começou a se formar... e bem... era hora de encarar meus demônios.
Quando não se é uma pessoa muito sociável, filas imensas tendem a ser um martírio, a menos quando sua cabeça é uma usina criadora de besteiras, basta deixar os sentidos no stand-by e viajar na maionese... o problema é que infelizmente me vi tragado do meu próprio mundo da lua por coisas que costumam despertar minha raiva e o meu espírito agressivo.
Logo a minha frente na fila dois jovens fazendo cursinho pré-vestibular se perdiam em suas amenidades, transcreverei a parte do diálogo que me tirou do transe:

- Ai Didi...será q o meu pakeruxo vem?! perguntou a moça...
- Sei-lá...respondeu secamente o rapaz...

Minha sombrancelha começou a latejar, meus pêlos eriçaram e tive uma vontade enorme de sucumbir ao ódio, não basta esse maldito dialeto tomar conta da internet, agora ele vem me atormentar na fila para o teatro!? Não pode!!! Assim não tá certo!!! Foi quando comecei a perceber de fato o ambiente a minha volta. Gente pseudo-descolada, óculos de armação grossa, uma cara fazendo crochê... um gótico com a cara pálida lendo um livro, umas patricinhas falndo sobre suas bolsas... tive vontade de gritar!!!
Respirei fundo... tentei voltar ao meu nível normal de sandices... fiquei pensando em várias coisas, na minha vida e sobre como podem existir pessoas que não comem bacon. Lembrei de uma loja na Galeria do rock... uma loja Veagan cujo slogam alegava que ali se vendiam acessórios sem crueldade.
Foi quando parei pra pensar: Existe produção industrial sem crueldade? - vamos aos argumentos:
Pra eles crueldade é matar animais, mas e a mão-de-obra infantil explorada nas lavouras de algodão? Ou mesmo os adultos bóias-frias? EE o trabalho que é expropriado em todas as etapas da produção? Se isso não for crueldade não sei o quê é... mas tem gente que prefere ficar por aí gritando "Dê uma chance a paz salve as baleias!!!" fazer o quê?!
Mas o quê mais me irrita é dizer que comer carne é um ato bárbaro!! Somos animais onívoros, fazemos parte da cadeia alimentar... faz parte do nosso instinto... agressividade é um dos pontos que moldam nosso instinto de sobrevivência ela deve ser controlada e direcionada... pra atividades construtivas, afinal... agressividade superficial não aproveitada é violência!!!
E com esses pensamentos caóticos que passei três horas em uma fila pra ver um espetáculo que valeu à pena.... mas foi por pouco que meus indices de insanidade não passaram do limite do saudável...

sexta-feira, abril 15, 2005

Caminhante Noturno

o título é uma homenagem a uma das minhas músicas favoritas de uma das maiores bandas q o mundo já conheceu. os Mutantes


Ele caminha pela noite, a brisa noturna refresca seu rosto com uma velha conhecida, mais uma caminhada. Sob a lua minguante ele caminha pela avenida, que já foi o leito de um rio, uma área desvalorizada, no entanto, após a sua construção, tranformou-se em um dos metros quadrados mais caros da cidade. Pensou em seus usos, nas lanchonetes, nas agências de automóveis, no parque, no caos que toma a cidade quando chove, nos fluxos de poder que por ela percorrem, naquele mesmo caminho, sempre igual e imutável que ela delimita, foi quando chegou ao seu destino.

- Nossa que bom que você chegou!!!
- Ué?! Porquê?
- Saca só o quê estamos disctindo... estamos falando sobre a crise que a morte de Deus anunciada por Nieztche causou no moderno...
- Nossa, isso é bacana... pq à partir do momento que ele nega o dualismo pregado tanto pelo cristianismo quanto pelo platonismo ele destrói todos os tabus que a nossa sociedade criou quanto ao mundo sensível. Não existe separação entre a razão e o mundo sensível, nossa racionalidade se constrói à partir de nossas experiências, que são adquiridas somente através de nossos sentidos... e toda aquela história de transcendência e um plano superior que nos espera é tudo balela!!!
- Mas não era disso que estávamos falando, estavamos falando sobre a crise de representação que o pós-moderno trouxe para as artes...
-Mas aí é que tá, depende daquilo que você considera como modernidade... porque em história e na filosofia, a modernidade é o período que se extende do século das luzes até a revolução industrial... agora se você está falando em modernismo, o buraco é outro... já que Nieztche é anterior ao modernismo... e sim ele rompeu com os paradigmas da filosofia moderna...
- Ah tá, mas então a arquitetura demorou mais tempo pra cair nessa crise...
- Isso já que os preceitos da arquitetura modernista eram baseados nos preceitos Cartesianos e apesar da ausência de ornamento, a geometrização da arquitetura clássica era bastante presente... E quando o Mundo mudou, a velocidade das coisas e o pensamento corrente também se transformou, nesse momento os arquitetos permaneceram presos aos ossos de seu precioso movimento... aí tudo se perdeu... bem...essa é minha opinião tenho trabalho a fazer...
Obrigações cumpridas ele tomou seu caminho, com as estrelas como companhia lembrou de um certo brilho, vindo de olhos irriquietos como o azeviche, pensou naquelas pernas de louça, que passavam por ele sem que pudesse tocar, no beijo com gosto de maracujá, em todas as palavras que já decorara há duas semanas. Seguiu caminhando, queria o silencio, aquele caminhante noturno. Pisou a grama, pisou o asfalto, lembrou daquela canção. Queria saber que horas eram. Continuou caminhando antes da noite morrer... caminhou até o dia nascer...

continua