sexta-feira, outubro 28, 2005

Eu tava triste. Sabe aqueles bodes que batem e te deixam estático. Mais uma dessas tardes sem graça. No cinzeiro, pontas e bitucas dividiam espaço, na verdade estavam transbordando. O balançar da rede, o laranja do crepúsculo, tudo muito igual, seguindo o ritmo e o ciclo da vida, nascimento, crescimento, vida, morte, amor ódio. Temas grandes demais pra mim, abaixo da varanda pessoas seguiam seu movimento, fluxo, velocidade, sujeira, agitação, música, churrasco grego...
A sala fedia cerveja choca e pizza de uns três dias, os copos pelo chão clamavam pela volta da empregada na segunda, recolhi alguns, na verdade recolhi todos, xinguei os donos daqueles que ainda armazenavam cerveja, desperdiçar uma loira gelada é um crime tão grave quanto bater na própria mãe. Isso na minha humilde opinião.
A tarde seguia sua levada lenta, e pesada as vezes, sempre gostei mais da brisa fria da noite, a escuridão, as luzes da cidade, os párias saindo de seus buracos, profetas urbanos, prostitutas, pseudo intelectuais, o sabor da cerveja, a fumaça do cigarro subindo até o teto contrastando com o neon. MAs naquele dia não tinha nada pra fazer, provavelmente passaria noite na frente da internet, buscando pornografia, as últimas do esporte, batendo papo... o telefone toca, "na rua os carros, no céu ... a chuva".
Um convite pra matar aquilo que sobreou da ultima festa, minha magrela cortava o vento enquanto eu e minha miopia éramos incapazes de popuar a pobre coitada dos buracos no asfalto.
Beber, fumar, falar bobagens, beber e fumar, essas reuniões se resumem nisso e muitas vezes se tornam monótonas e sempre iguais. A anfitriã estava linda como sempre, aliás devo admitir: eu, um ser preguiçoso por natureza ergueria uns caminhões por causa dela. Vou escrever em português claro, puta que pariu como é gostosa!!! Acho que acabo de poupar o leitor das minhas descrições que tentam ser poéticas e acabm ficando sem graça. Ela bebe mais do que muito marmanjo e eu valorizo isso, ela fala merda demais, eu tolero isso, ela namora, eu não gosto disso ela não dá bola pra mim e eu odeio isso.
O papo gira em torno de assuntos com um certo teor de semelhança, uma semelhança fractal como diria um certo professor de química que tive, a universidade, as festas, a qualidade da bebida, problemas urbanos e tudo mais... Quando começamos a discutir segregação espacial e violência urbana, todo o tesão se perdeu na quantidade de bobagens que aquela boca, linda diga-se de passagem, era capaz de pronunciar, não adiantava citar as origens sociológicas do problema, a maldita mentalidade pequeno-burguesa paulistana estava impregnada em sua embriagada cabecinha.
Naquela noite desisti!!! Eu tava chapado, e bem... não é o melhor estado pra se defender posições marxistas, minha paixão pela revolução digladiava-se com os meus elevados teores de testosterona, e bem...nessas horas é melhor ceder, já tava difícil controlar minha vontade de pular pro outro sofá e calá-la de uma maneira diferente.
Isso me levaria a repensar meu código de ética, minhas porsturas baseadas em... bem isso tb não vem ao caso, mais uma tarde chuvosa passou, e dessa vez sem telefonemas... internet me aguarde a noite vai ser longa!!!