quinta-feira, junho 29, 2006

Eu tremia. Como poucas vezes tremi nesses anos todos. Talvez seja o começo do inverno, as velhas crises de artrite, ou a multidão de solitários presos em minha biblioteca empoeirada, meus companheiros na solidão da velhice e da juventude. Quando se chega a uma certa idade as lembranças com mais de 40 anos parecem mais recentes a mente, você não sonha mais, vive uma rotina de acordar cedo, dormir mais cedo ainda, reclamar, e sentir saudades.
Nesse aspecto os melhores amigos são os retratos. Imagens de quando ainda usava fraldas, nossas festinhas de aniversário, as maluquices da faculdade, retratos de um casal apaixonado, as fotos das crianças, que viraram adultos e depois sumiram. Aliás pensei que não fossem sumir, afinal fui eu q apresentei Jah a eles... mas mesmo assim...
A aposentadoria, a cama de viúvo, a sua foto na cabeceira, ah os nossos 20 anos, como era linda quando dormia, o sorriso de menina que não te abandonou naquele dia cinzento em que vc partiu pra sempre, beijei seus lábios frios antes que fechassem o caixão, ali eu deixei meu sorriso também, ao seu lado.
As crianças ainda me visitam às vezes, mas a velhice e a juventude parecem que se repelem, os jovens tem medo da morte estampada no rosto enrugado e da brancura nos cabelos...
Com a companhia Marx, Hegel, Dante, Drumond e Machado eu ainda viajo, mas todas as noites em que deito, tenho quase a certeza de não sonho mais... e isso me assusta, pq um homem sem sonhos é um homem morto, e pra quem não acredita num depois, o fato de saber que o show terminou é assustador, dá até vontade de experimentar o ópio da religião, mas ainda me contento com meus cigarros e às vezes um cogumelo mágico, quem sabe?!
Talvez seja mais uma dessas tristezas de aniversários, ou a senilidade dando seus primeiros traços, e as vezes tudo parece exagerado, como aquelas conversas repetidas, sabe?! Aquelas histórias que você conta pros netos repetidas vezes, que les já sabem de cor, quando eles eram crianças essas histórias eram mágicas... e agora...
Assim como meus discos empoeirados eu fico parado. Num trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte que não chega.

segunda-feira, junho 12, 2006

Naquela noite, ela gritava. Dizia desesperadamente que aquilo que eu escrevera não era real. Soluçava... torturava-me com sentenças duras... que eu fora poeta e não estava naquilo... que era prostituição... bizarro e mentiroso.
Em desespero quebrei uma garrafa em minha cabeça, agarrei-a pelos braços, rasguei seu vestido e sugava seu mamilo com vontade. Em meio a arfadas, gritava a plenos pulmões: escrevi mentiras sim!!! pq não posso escrever a realidade!!!Isso aqui é real!!! O nosso suor!!! Nossos gemidos!!! Minha lingua em sua calcinha!!!
Puxou meu rosto pra cima!!! Deu-me um beijo. Mordeu meu lábio inferior.
Isso é real!!! Nossos corpos em comunhão. Sua barriga nua, a penugem do seu sexo, o seu gosto em minha boca, esse sorriso divino, seus seios contra a luz... como poderia descrever em palavras?! O jeito q vc dorme, sorrindo... como se não houvesse mais nada, a boca que faz quando solta a fumaça do cigarro, a careta com a sobrancelha levantada toda vez que é contrariada... a maneira como revira os olhos qdo toco aqui!!!
Continue!!! É isso que está faltando!!! Grite tudo isso ao mundo...
Não!!! É minha... apenas minha!!! Não quero que imaginem o biquinho rosado de seus seios, ou sua voz suave pedindo mais... Nunca!!!