sexta-feira, junho 17, 2005

Crônicas em Concreto e Vidro - Parte 1 - Uma Menina

As cidades infectaram o planeta como um vírus, e não vão descançar até que o organismo Terra morra, nesse instante elas darão um jeito de se superarem, lançarão a humanidade pelo cosmos para macularmos outros lugares, aí o terceiro planeta do sistema solar irá engulir essas antigas obras humanas para então entrar num novo ciclo de renascimento.
Quê que foi guri?! Tá achando esse velho maluco?! É talvez eu seja, sabe? Eu já fui filósofo, poeta, físico de renome, hoje eu vendo artesanato manja?! Eu faço arte. Tiro energia da cidade, aquilo que ela rouba de mim eu pego de volta, cada despedida, cada pulmão partido com a fumaça, o afeto a discórdia. Existem linhas de poder dentro delas, linhas que eu sei onde ficam, linhas de afeto, outras de dominação, é daí que eu tiro a magia, das enchentes, dos metrôs que rasgam a escuridão como os vermes das lendas... Sim, tem gente batalhadora, tem vermes sanguessugas... tem de tudo. Histórias gravadas em concreto e vidro.

Essa que eu vou contar agora não tem final feliz, é pra quem tem estômago, possui tudo aquilo que o povo gosta, sangue e sexo. E como toda boa história, ela começa falando de uma garota...

Maria Paula era linda, morena, olhos azuis, boca carnuda, uma pérola em meio aos porcos no sertão de Goiás. Cabelos longos, um olhar provocante em meio aos gestos de menina. Traduzindo para o bom e velho português de boteco, a mina era muito gostosa, mas muito mesmo. E ela sabia disso, sabia do efeito de seu rebolado, era capaz de ver as coisas ao longe, e quando pintou a oportunidade de ir a São Paulo trabalhar como modelo não pensou duas vezes. Poderia realizar os sonhos dos pais, dar uma vida melhor aos irmãos menores e viver na badalação.
As luzes coloridas, os carros em alta velocidade, as montanhas de concreto que erguiam-se imponetes em direção aos céus, parecia que nascera para aquilo, sentiu-se em casa no instante em que desceu na Rodoviária do Tietê e deu seu primeiro passeio de metrô até a agência.
O primeiro cachê foi bom. Aliás mais dinheiro que seu pai costuma ganhar em pelo menos 3 meses de trabalho duro, tudo isso apenas para caminhar, ser fotografada e vestir roupas bonitas. Baladas, muitas, agito, música, drogas, alcóol, sexo. Experimentou de tudo!!! Gastou tudo... até que uma amiga a indicou pra fazer um programa, em princípio era para apenas servir de acompanhante para um velho babão em um jantar de negócios, nada demais, até porque mesmo com a invenção do viagra... provavelmente ela mataria o velho do coração... Depois vieram os masoquistas que curtiam apenas apanhar, cocaína da boa, dinheiro que garantiria o futuro da irmã mais nova, uísque do bom, carro importado, o sonho de menina realizado.
Mas nem tudo são flores, sexo burocrático, nada de beijos apaixonados, apenas estocadas sem carinho, gemidos ensaiados, mentiras, no Mackenzie vestia a imagem de garota inacessível, fazia administração, não tinha amigos, só clientes e colegas de trabalho, os sonhos nem são tão bons quanto os devaneios mandados por Orfeu... chega uma hora em que a viagem termina e o pesadelo começa.



continua...

2 comentários:

Anónimo disse...

eu curti a parte do mackenzie...hehehee

Marcus DIeckmann disse...

ta melhorando, mas ainda eínciste na porra do dialogo.