sábado, novembro 04, 2006

As paredes da casa vazia são incapazes de conter uma mínima sensação de conforto. A Tv ligada apenas para me lembrar de como são os ruídos produzidos pelas pessoas. Na cozinha, louças com mais de uma semana de uso, na geladeira apenas a garrafa de água. No rádio, uma música triste. Sempre tive medo da solidão. Mesmo que muitas vezes opte por estar sozinho em meio as pessoas, mas era uma opção, e não uma sentença.
Meus demônios vêm a mim, eles sentem a solitude e aproveitam para dar as caras, escarniarem um pouco, e depois partem, pensando ter conseguido fazer algum estrago.
Horas e horas sem dizer uma palavra, provocam algumas reações esquizofrênicas, conversar consigo mesmo, pensar em voz alta, fazer planos bizarros para o futuro.
Quando já não aguento mais o peso de minha prisão domiciliar, decido dar uma volta. Caminhadas me conectam com o infinito, eu acho. Coloco idéias em ordem, penso sobre mim, sobre o mundo e até mesmo nela.
Nas ruas, assim como eu, pessoas indiferentes a tudo. Ninguem se olha, não há toque ou contato. A vendedora da loja de conveniência nem olha na minha cara, e não vê o sorriso franco que abro ao pedir meu maço de cigarros e dizer que pagarei no débito... Vício idiota esse. Já levou boa parte do clã. E pelo andar da carroagem vai levar o último varão que também decidiu embarcar nesse pequeno suicídio diário. Vícios são as grandes muletas da humanidade. O Sistema é realmente muito esperto, dê-nos cocaína, religião ou futebol, estaremos sob controle dessa maneira.
A Tv não consegue fazer seu papel, ela é desligada... pela janela eu vejo o Sol partir para o seu sono, dando lugar a confortante noite e suas sombras... torço para que chova. Talvez assim eu saia de casa para sentir a água caindo do alto, e talvez berrar canções por aí, pular muros e gritar feito um louco para compensar as horas de silêncio do dia.

3 comentários:

A. Diniz disse...

Se viver é arte, escrever sobre ela é Bela Arte. E você consegue, não me surpreendo mais com as sacadas que você possui...

E como disse meus amigos depois de sucessivas tentativas de me matar aos poucos com biritas, acompanhantes baratas e afins, "Vaso Ruim Não Quebra".

Anónimo disse...

Correndo o risco de ser repetitiva (de novo!): adoro seus textos!

Snow disse...

A tv, as paredes, a rua, tudo é transparente. A solidão é sólida qnd a ausência é mais substancial q qlq fumaça de presença. Até o chão, rígido e firme se desmancha... q dirá nossa face sobre a chuva.

Gostei de ler. Volto, certamente.
Abraços.